No extremo norte de Ubatuba, escondido entre a mata atlântica e o mar da Praia da Fazenda, existe um lugar onde o tempo corre diferente. Quem chega lá sente que está entrando em outra realidade. Mas atenção: esse não é um passeio comum. O que se vive na Comunidade Quilombo da Fazenda vai muito além do turismo tradicional. É um mergulho profundo em mais de 200 anos de história, ancestralidade e resistência cultural.

Este roteiro, baseado no modelo de Turismo de Base Comunitária, convida o visitante a caminhar com respeito, escutar com atenção e, principalmente, a aprender. Tudo é conduzido pelos próprios moradores, que além de guias, são os guardiões de uma identidade construída com suor, luta e memória.

Como funciona o Roteiro Quilombo da Fazenda?

Com cerca de 200 moradores tradicionais, o Quilombo da Fazenda é reconhecido como Comunidade Remanescente de Quilombo e mantém modos de vida ligados à terra, ao coletivo e à preservação. No roteiro, cada atividade tem um propósito claro: valorizar a cultura local e garantir que o turismo beneficie diretamente a comunidade.

A experiência é monitorada por moradores quilombolas, que conduzem os grupos com olhar sensível e conhecimento profundo da região. Ao participar, você não é apenas um visitante — você se torna parte de uma troca genuína.

Quais são as Atividades oferecidas no roteiro?

O turismo de base comunitária do Quilombo da Fazenda traz diversas atividades para os turistas que pretendem visitar não só as praias de Ubatuba. Logo abaixo, você confere o roteiro completo. Veja só!

1. Visita à Casa da Farinha

Ponto de partida da maioria dos roteiros, a Casa da Farinha é o coração da comunidade. É ali que você entende o processo artesanal da produção de farinha, desde a colheita da mandioca até a torra no forno. O cheiro, o calor e o ritmo da produção são marcantes.

2. Produção de farinha artesanal

Além de observar, você pode colocar a mão na massa — literalmente. Participar da produção da farinha é uma das vivências mais ricas do roteiro. É trabalho, é aprendizado e, acima de tudo, é tradição viva.

3. Visita à Agrofloresta

A comunidade mantém sistemas agroflorestais que misturam saberes ancestrais e técnicas de sustentabilidade. Nessa atividade, o visitante aprende sobre o cultivo de alimentos e plantas medicinais sem destruir o bioma.

4. Roda de conversa com um morador quilombola

Parar para ouvir é parte do processo. Nessa roda, o morador compartilha sua história, os desafios da comunidade e os caminhos de resistência. Um momento tocante que costuma deixar marcas.

5. Vivência com artesãos e Oficina de artesanato

Aqui, você conhece os talentos da comunidade em técnicas manuais. Pode ser cesto, pintura, bijuteria ou arte com fibras naturais. E sim, é possível levar uma lembrança com significado.

6. Apresentação do grupo “Ô de Casa”

O jongo — dança ancestral de matriz africana — é apresentado com música, corpo e ritmo pelo grupo formado na própria comunidade. É mais que dança. É celebração. É identidade.

7. Oficina de construção em pau-a-pique

Bioarquitetura na prática. Você aprende como se constrói uma casa de pau-a-pique, técnica tradicional com barro e madeira que resiste ao tempo e valoriza os recursos naturais locais.

8. Observação de aves

A trilha sonora da mata atlântica é feita por dezenas de espécies. Logo, guiado por moradores que conhecem cada canto da floresta, esse passeio oferece uma aula ao ar livre sobre a fauna da região. A observação de aves é imperdível.

9. Oficina de culinária tradicional

Nada como experimentar a cultura com o paladar. Aqui, você aprende receitas típicas, prepara e depois saboreia pratos com ingredientes da região. Tudo feito de forma coletiva e afetuosa.

10. Coquetel quilombola

Uma pausa saborosa com bebidas artesanais, sucos e petiscos preparados pelos moradores. Esse momento é ideal para quem deseja fechar o dia de experiências com um encontro mais leve e descontraído.

11. Trilha do Corisco

Esta trilha é leve e com muita história envolvida. Neste percurso, caminha-se por trecho usados há décadas pela comunidade, com paradas para banho, observação da mata e conversas sobre o território quilombola.

12. Outras trilhas ecológicas

De acordo com o interesse do grupo, há possibilidade de roteiros personalizados — sempre acompanhados por monitores da própria comunidade, o que garante segurança e profundidade nas explicações.

Informações práticas para quem quer participar

Antes de participar deste roteiro em Ubatuba, é essencial que você conheça as principais informações do local. Por isso, trouxemos este quadro com dicas completas para facilitar o seu percurso. Tome nota!

Como chegar?

O ponto de encontro é no Sertão de Picinguaba, acessado pela BR-101 (Rio-Santos), km 12, na altura da Praia da Fazenda. A estrada secundária tem 2,5 km de terra e pode ser difícil para ônibus ou vans — nesse caso, pode ser necessário fazer esse trecho a pé.

Transporte e acesso

Se for em veículo pequeno, o acesso é mais fácil. Mas vale se planejar: durante períodos de chuva, o caminho pode ficar escorregadio.

Agendamento

A visita só acontece mediante reserva antecipada diretamente com os monitores da comunidade. Os contatos disponíveis são:

Ingressos adicionais

Caso você opte por alguma trilha no Parque Estadual da Serra do Mar, é necessário adquirir o ingresso do parque separadamente.

Por que esse roteiro é diferente?

Diferente do turismo tradicional, esse modelo redistribui os lucros diretamente para quem vive no território. Os monitores são moradores, as refeições são preparadas com ingredientes locais e cada atividade fortalece a autonomia da comunidade.

Mais do que um passeio, o Roteiro Quilombo da Fazenda é uma oportunidade de entender o Brasil por outras lentes. Uma experiência que mistura natureza, cultura e ancestralidade, com impacto direto e positivo para quem vive ali.

Portanto, se você busca mais do que uma trilha ou um banho de cachoeira, o Roteiro Quilombo da Fazenda pode ser o ponto alto da sua visita a Ubatuba. Um convite para conhecer um Brasil profundo, que resiste, se reinventa e compartilha. Um turismo que transforma — o visitante, e quem o recebe.

Michelle Souza

Sou Michele, apaixonada por ecoturismo e por tudo o que envolve aventura e natureza. Ubatuba é meu playground e, ao longo dos anos, explorei os melhores lugares para trilhas, mergulho, surf, rapel e tantos outros esportes ao ar livre.

Mas não basta só conhecer os destinos — saber como chegar com segurança, o que levar e quais cuidados tomar faz toda a diferença. Por isso, compartilho dicas práticas para que você evite imprevistos e aproveite cada momento ao máximo. Quero que sua viagem a Ubatuba seja memorável, cheia de descobertas e conexão real com a natureza!