Ubatuba é uma cidade que desafia expectativas. Turística, sim. Moderna, até certo ponto. Mas também cheia de vazios interessantes — lacunas que dizem mais sobre o estilo de vida local do que qualquer guia de viagem.
Enquanto a maioria das cidades brasileiras corre para acompanhar tendências urbanas, Ubatuba parece escolher cuidadosamente o que adotar e o que deixar passar. E isso não é necessariamente um defeito. É uma escolha, um reflexo da geografia, da cultura caiçara e de uma população que, em geral, valoriza mais a natureza do que o concreto.
Se você está acostumado a certas facilidades urbanas, prepare-se: Ubatuba não tem muita coisa que a maioria das cidades já incorporou. A seguir, listamos algumas dessas ausências que tornam a cidade única — e, em muitos casos, mais encantadora.
O que não tem em Ubatuba?

Talvez a ausência mais notável para quem chega pela primeira vez seja a falta de um shopping center. Não há escadas rolantes brilhando, nem lojas de grife em corredores climatizados.
Em Ubatuba, o consumo é mais distribuído e pulverizado: pequenas lojas no centro, feirinhas de artesanato e mercados locais dão conta do recado. O comércio ainda tem cara de cidade pequena, onde o dono está no caixa e o cliente é chamado pelo nome.
Isso significa que, se chover por dias seguidos, você vai precisar ser criativo — nada de vamos ao shopping passar o tempo. Por outro lado, é uma boa desculpa para descobrir um café escondido, um sebo ou um ateliê local.
Transporte público limitado
Em muitas cidades, o ônibus é uma alternativa viável ao carro. Em Ubatuba, ele é… possível. A cidade até tem linhas regulares, mas elas não costumam ser tão frequentes, e tampouco cobrem com agilidade todas as regiões. Parte disso se explica pela geografia: Ubatuba é uma cidade comprida, com bairros distantes e muitas vezes separados por morros ou matas.
O resultado? Ter carro é quase obrigatório para quem mora longe do Centro. E, para turistas, alugar um veículo (ou preparar-se para usar bastante os pés) é uma recomendação realista.
Sem grandes redes de fast-food
Você pode até encontrar um ou outro quiosque de redes conhecidas. Contudo, não existe drive-thru de batata frita na beira-mar. Em vez disso, você encontrará quiosques servindo pastel de camarão, tapioca artesanal, suco de graviola e peixe frito feito na hora.
Isso não é só uma questão de ausência, mas de presença local. A gastronomia ubatubense é profundamente marcada por ingredientes frescos, receitas familiares e um ritmo mais lento, onde o “pronto em 5 minutos” não é regra — e tudo bem.
Falta de ciclovias contínuas
Ubatuba parece ter sido feita para ser explorada de bicicleta. Mas, na prática, andar de bike por aqui exige coragem e habilidade. Isso porque, existem trechos com ciclovias, especialmente na orla central, mas elas são desconexas e, muitas vezes, interrompidas por trechos estreitos de acostamento ou calçadas mal resolvidas.
A bicicleta é, sim, um meio de transporte utilizado por muitos moradores — sobretudo em bairros planos como Itaguá, Estufa e Centro. Mas ela não é plenamente segura ou integrada como se espera em cidades mais planejadas. O ciclista, em Ubatuba, precisa estar sempre atento e se adaptar ao improviso.
Sem grandes prédios (e que bom!)

Em Ubatuba, a paisagem ainda é dominada por montanhas, árvores e céu aberto. Você não verá arranha-céus, tampouco complexos verticais com 20 andares. Existem prédios, claro, mas a maioria tem no máximo 4 ou 5 andares, por conta da legislação municipal que visa preservar a paisagem e evitar a verticalização excessiva.
O resultado é uma cidade que ainda guarda um horizonte limpo — um luxo, se compararmos com outras cidades litorâneas do Sudeste. Isso contribui para um estilo de vida menos acelerado, mais conectado com o ambiente e, curiosamente, mais democrático em termos de vista.
Sem vida noturna intensa (fora da alta temporada)
Em muitas cidades, mesmo pequenas, a noite ferve o ano todo. Em Ubatuba, não. A vida noturna local é sazonal. Fora da alta temporada, é comum ver bares fechando cedo, festas esporádicas e ruas silenciosas às 22h. Essa calmaria pode decepcionar quem busca agito permanente, mas agrada quem quer sossego — e é exatamente isso que muitos moradores e turistas procuram.
Durante o verão, claro, o cenário muda. Mas, mesmo assim, o ritmo é mais informal, mais “pé na areia”, e menos voltado a baladas de luxo e festas com ingressos caros.
Falta de hospitais com estrutura completa
Ubatuba tem hospitais e unidades de saúde, mas eles enfrentam limitações estruturais, especialmente nos períodos de maior demanda. Casos mais graves muitas vezes precisam ser transferidos para Taubaté ou Caraguatatuba. Isso mostra uma das fragilidades da cidade enquanto destino turístico crescente: o sistema de saúde ainda precisa de investimentos para acompanhar o aumento populacional sazonal.
Por outro lado, há uma rede de médicos particulares que cobre bem a cidade, e várias clínicas de especialidades — o desafio, no entanto, é o atendimento emergencial mais complexo.
Sem aquela sensação de pressa

Pode parecer bobagem, mas isso é algo que Ubatuba realmente “não tem”: pressa. É claro que há exceções — especialmente em dias de trânsito na Rio-Santos —, mas, em geral, a cidade funciona em um ritmo próprio, quase zen. Reuniões começam alguns minutos depois, entregas levam um tempo maior, e as pessoas se cumprimentam com mais paciência.
Essa ausência de urgência pode irritar quem vem de cidades grandes, mas é justamente o que muitos buscam ao se mudar para cá. Em Ubatuba, você aprende a desacelerar. E isso é raro.
Um charme feito de ausências
As ausências de Ubatuba não são falhas. São, em grande parte, escolhas — ou consequências naturais de uma cidade que valoriza seu entorno e sua identidade. Não ter shopping, fast-food em cada esquina ou prédios altos pode parecer uma desvantagem à primeira vista. Mas, para quem conhece bem Ubatuba, essas ausências são parte do que a torna especial.
É claro que há desafios — como em toda cidade que cresce rápido. Mas a mágica de Ubatuba talvez esteja justamente no que falta. Porque, em um mundo tão cheio de tudo, encontrar um lugar que opta por ter menos é uma forma de resistência. E um convite para viver de outro jeito.
Uma vez que você já sabe o que não tem aqui em nossa cidade, fica mais fácil de aproveitar as praias de Ubatuba sem grandes sustos.

Vivo e respiro Ubatuba. Mais do que moradora, sou uma exploradora apaixonada, sempre em busca de cantinhos autênticos e histórias que só quem realmente vive a cidade conhece. Não gosto de dicas genéricas e acredito que Ubatuba merece ser descoberta. Compartilho minha experiência real, sem filtros, mostrando que esse paraíso vai muito além do verão.