Pouca gente sabe da existência dela. Mesmo entre os trilheiros mais experientes, a Gruta do Pirata segue como uma joia escondida em Ubatuba. Para quem gosta de caminhada na mata, contato direto com a natureza e um visual rochoso único, esse é o tipo de destino que impressiona.
Escondida entre a Praia das 7 Fontes e a Ilha do Mar Virado, a gruta exige um certo esforço para ser alcançada. Mas quem encara o desafio é recompensado com um cenário incomum, onde a formação geológica é tão curiosa quanto a lenda que dá nome ao local.

Como chegar à Gruta do Pirata
Tudo começa no Saco da Ribeira. A trilha se inicia na Praia da Ribeira, ao lado do píer, e segue em direção à Praia das 7 Fontes. Esse primeiro trecho leva cerca de 90 minutos de caminhada, considerando o ritmo médio de quem já está acostumado a trilhas com subidas e trechos sombreados.
Chegando à Praia das 7 Fontes, o caminho segue pelo canto esquerdo. Dali, começa de fato o trecho específico para a Gruta do Pirata. A partir desse ponto, considere mais 40 minutos até chegar à costeira de onde se avista o famoso paredão rochoso. Esse último trecho é o mais exigente de todo o percurso.
Como é a trilha até a Gruta do Pirata
Logo no início, uma subida íngreme e curta já mostra que não se trata de um passeio qualquer. A boa notícia é que logo adiante, após poucos minutos, a trilha recompensa o visitante com um mirante natural. Dali se vê parte da Praia das 7 Fontes e da vegetação ao redor. Uma pausa estratégica para foto — e também para tomar fôlego.
Seguindo adiante, depois de cerca de 15 minutos, se chega às caixas de captação de água que abastecem os moradores da região. O trecho até ali é relativamente aberto. Mas a partir deste ponto, a trilha se fecha dentro da Mata Atlântica, com o caminho ficando estreito, coberto por raízes, folhas, cipós e galhos caídos. Em alguns trechos, passa-se por árvores centenárias e pontos com água.
O trecho final da trilha é mais técnico. Além do solo escorregadio, o caminho beira encostas que estão tomadas por avencas bravas. É fundamental estar atento onde pisa, principalmente se o chão estiver úmido. A trilha termina num alto costão rochoso, de onde é possível observar a falésia conhecida como “Paredão do Pirata”.
O visual do Paredão do Pirata

A formação impressiona. Trata-se de uma falésia com rachaduras profundas e desenho irregular, consequência direta da ação do vento, da água e do tempo. A coloração laranja vem do tipo de rocha, o arenito, com presença de quartzo e óxido de ferro. À frente, do lado direito, aparece a Ilha do Mar Virado. Do lado esquerdo, se vê a Ilha Anchieta.
A descida até a costeira onde está a entrada da gruta é feita com o auxílio de cordas — quando disponíveis. A recomendação, no entanto, é que cada trilheiro leve sua própria corda, pois as que estão no local podem estar comprometidas pelo desgaste natural. O uso de luvas é recomendado.
Ao chegar à costeira, a entrada da gruta está no canto direito do paredão. Porém, é preciso contornar as pedras, o que exige muito cuidado, principalmente se o mar estiver agitado ou se houver maré alta. Em condições ruins, esse trecho torna-se perigoso e deve ser evitado.
Principais cuidados na trilha
Por ser uma trilha com trechos técnicos e beirando encostas, alguns cuidados são indispensáveis:
- Evite trilhar sozinho. Leve pelo menos um acompanhante.
- Informe alguém sobre o trajeto e o horário previsto de retorno.
- Use calçados apropriados com boa aderência.
- Leve uma corda própria, mesmo que encontre uma instalada.
- Proteja-se do sol, de insetos e dos borrachudos, muito comuns na região.
- Carregue água e um lanche leve.
- Não vá em dias de chuva ou com previsão de ressaca.
- Respeite a natureza: leve seu lixo de volta e não faça fogueiras.
Explorando a Gruta do Pirata
Acesso ao interior da gruta: O primeiro salão é acessado por um trecho estreito, onde é preciso agachar para entrar. Logo depois, é possível ficar em pé e observar cerca de 15 metros de galeria, envoltos em escuridão. No final, surge um novo salão, com mais de 20 metros de extensão e teto elevado.
Ambiente interno: Dentro da gruta, o silêncio é total. O único som é o dos pingos de água caindo do teto. O ambiente desperta a imaginação, reforçada pela lenda de que piratas usavam a gruta como esconderijo de tesouros. Segundo moradores antigos, ela também serviu de refúgio durante a rebelião da Ilha Anchieta, em 1952.
Cuidados e recomendações
- Grau de dificuldade: Trilha de nível moderado a difícil. É essencial contar com guia de turismo credenciado ou monitor ambiental.
- Roupas adequadas: Use calça comprida e camisa de manga longa para se proteger do capim navalha e possíveis arranhões. Perneiras são recomendadas.
- Equipamentos importantes: Calçado confortável, mochila impermeável, repelente, protetor solar, lanterna, apito, capa de chuva, muda de roupa, água e lanche leve.
- Cuidados adicionais: Fique atento a desníveis e erosões no caminho. Um bastão ou cajado ajuda na estabilidade.
- Fauna da trilha: A região abriga cobras peçonhentas como jararaca, coral, jararacuçu e urutu cruzeiro. Elas são comuns em áreas ensolaradas no trajeto.
Dica final: Faça o percurso com orientação profissional para mais segurança e aproveitamento histórico-cultural do local.
O que esperar da experiência?
A trilha para a Gruta do Pirata não é para iniciantes, mas também não exige experiência avançada. O ponto central é o respeito ao caminho e à natureza. O visual da falésia, a vista das ilhas e o som das ondas batendo nas pedras formam um cenário que dificilmente se esquece.
Não há infraestrutura turística, não tem placa sinalizando o local e não há salva-vidas por perto. É você, a trilha e o mar. Isso é o que torna o passeio ainda mais especial — e por isso mesmo deve ser feito com atenção e responsabilidade.
Quem chega até lá entende por que o lugar é tão especial. E por que, apesar de pouco conhecido, é um dos cantos mais fascinantes e selvagens de Ubatuba.

Sou Michele, apaixonada por ecoturismo e por tudo o que envolve aventura e natureza. Ubatuba é meu playground e, ao longo dos anos, explorei os melhores lugares para trilhas, mergulho, surf, rapel e tantos outros esportes ao ar livre.
Mas não basta só conhecer os destinos — saber como chegar com segurança, o que levar e quais cuidados tomar faz toda a diferença. Por isso, compartilho dicas práticas para que você evite imprevistos e aproveite cada momento ao máximo. Quero que sua viagem a Ubatuba seja memorável, cheia de descobertas e conexão real com a natureza!