Pouco conhecida até por quem frequenta Ubatuba com frequência, a Cachoeira da Água Branca é um dos maiores tesouros naturais da região sul da cidade. Com uma queda que impressiona pela altura, estimada entre 180 e 200 metros, ela está entre as maiores do Brasil.
A paisagem é dominada por um paredão rochoso de granito verde que se mistura ao cenário denso da Mata Atlântica, compondo uma vista difícil de esquecer.
O formato da cachoeira lembra um véu de noiva, com várias quedas finas e sucessivas, o que torna o visual ainda mais especial, mesmo sem um volume de água tão expressivo.
Onde fica a Cachoeira da Água Branca?
Essa cachoeira está localizada dentro dos limites do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) e, por ser uma área de preservação, o acesso é bastante controlado. Não é permitido fazer esse trajeto por conta própria. O visitante precisa agendar a visita com antecedência e estar acompanhado de um monitor ambiental.
Além disso, há exigência no vestuário: é obrigatório o uso de calças compridas, sapatos fechados e o recomendado uso de perneiras por causa da vegetação e da fauna local.

Como é a trilha da Cachoeira da Água Branca?
A trilha começa na Cachoeira da Renata, no Sertão da Quina, que é o ponto mais próximo para estacionar um veículo. A partir dali são 4,3 km de caminhada até a base da Cachoeira da Água Branca. Pode parecer pouco, mas o esforço é alto. A trilha é considerada difícil, e o percurso total (ida e volta) leva em torno de seis horas. Não é indicado para quem não está acostumado com trilhas longas ou tem pouca resistência física.
Trajeto para a Cachoeira da Água Branca
No caminho até a cachoeira, os visitantes passam por alguns pontos bem interessantes. Um dos primeiros destaques é o Poço Verde, seguido da Cachoeira da Queda Brava, que tem um bom poço para banho. Há também a possibilidade de fazer um pequeno desvio e conhecer a Cachoeira do Chafariz, outro ponto de parada que vale a pena.
A trilha é cercada de riachos e pequenas quedas d’água. Estima-se que o caminho passe por mais de 12 pontos com água corrente. Conforme a caminhada avança, a paisagem muda. A vegetação se fecha, a inclinação do terreno aumenta, e o verde se intensifica. O trecho final da trilha é mais exigente, mas também mais bonito. A presença de árvores como a Juçara e a Samambaia Açu tornam o ambiente ainda mais selvagem.
Presença de animais na trilha da Cachoeira da Água Branca
Com um pouco de sorte, é possível avistar os Muriquis, também conhecidos como macacos-do-sul. São os maiores primatas das Américas, chegando a pesar até 12 kg. Esses animais são dóceis, vivem em bandos e se alimentam principalmente de frutos e flores. Ver um deles em meio à trilha é um privilégio raro e marcante.
Após cerca de três horas de caminhada, o visitante chega à base da Cachoeira da Água Branca. O barulho da água é intenso, mesmo com o fluxo não sendo tão grande. Para quem deseja uma visão mais ampla da queda, é possível fazer uma “escalaminhada” até um mirante natural. Esse trecho exige mais atenção, já que envolve subida sobre pedras e trechos escorregadios. No entanto, o esforço é recompensado com uma vista panorâmica da cachoeira em toda sua extensão.
Como é a Cachoeira da Água Branca?

A formação da cachoeira é curiosa. Ela nasce das águas do Rio do Brilhante, que vem das proximidades do Vale do Paraíba. No paredão da queda d’água é possível ver duas nascentes laterais que descem separadamente, se encontram no meio do caminho e seguem unidas até desaparecerem entre as pedras. A água não forma um grande poço, o que torna a cachoeira mais contemplativa do que recreativa.
Conheça a história da Cachoeira da Água Branca
A história do lugar também chama atenção. Registros indicam que a região era usada por indígenas como ponto de passagem e descanso. Séculos depois, foi também frequentada por exploradores europeus e negros que percorriam rotas comerciais e, infelizmente, de tráfico negreiro.
Ainda existem vestígios de trilhas antigas que ligavam Ubatuba ao Vale do Paraíba, utilizadas nos períodos do ciclo do café, da cana-de-açúcar e para troca de mercadorias.
Essas trilhas estão camufladas pela mata, mas fazem parte da história do Brasil. O barulho constante da água, a vegetação fechada e a localização estratégica tornavam a região ideal para movimentações discretas durante o período escravocrata. Esse passado, silencioso e muitas vezes ignorado, ainda ecoa pelas pedras da Cachoeira da Água Branca.
Região da Cachoeira da Água Branca é protegida
Hoje, a região é protegida e monitorada, com regras rígidas de acesso. É um destino que exige preparo físico e respeito à natureza, mas que entrega uma experiência única para quem se propõe a explorá-la. Não há infraestrutura no caminho, então o visitante precisa estar bem equipado com água, lanche, proteção solar e cuidados contra insetos.
Vale a pena visitar a Cachoeira da Água Branca?
Sim. Contudo, a Cachoeira da Água Branca não é daquelas que se visita por impulso. Ela exige agendamento, acompanhamento especializado e, principalmente, disposição para caminhar em meio à mata fechada. Mas para quem cumpre todos os requisitos e encara o trajeto, o prêmio é estar diante de uma das maiores e mais impressionantes quedas d’água do Brasil, envolta em história, mistério e a força silenciosa da natureza.
Se você busca uma trilha desafiadora, com paisagens imponentes, biodiversidade riquíssima e um mergulho na história natural e humana de Ubatuba, a visita à Cachoeira da Água Branca é uma escolha certeira. É o tipo de passeio que transforma a relação com a cidade e mostra por que o sul de Ubatuba guarda alguns dos segredos mais bem preservados do litoral paulista.

Vivo e respiro Ubatuba. Mais do que moradora, sou uma exploradora apaixonada, sempre em busca de cantinhos autênticos e histórias que só quem realmente vive a cidade conhece. Não gosto de dicas genéricas e acredito que Ubatuba merece ser descoberta. Compartilho minha experiência real, sem filtros, mostrando que esse paraíso vai muito além do verão.